sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

E agora nós?

São 15:00 horas aqui na África.Estou com uma criança no colo à espera de socorro.É uma menina de aparentemente 8 anos,muito magra,como você já pode imaginar.Ela começa a vomitar e dar crises de tosse,e eu inutilmente entro em desespero,grito por alguém,tento fazer sei lá o que para ajudá-la.Silencia-se então.Começo a chorar por lembrar daquela cena que me marcaria para sempre,choro porque sou tão UM NADA que só pude segura-la e abraçá-la.Fiquei dando o carinho que ela já nem  lembrava que um dia teve(seus pais morreram há muito tempo).Minhas lágrimas tocam o seu rosto empoeirado,e ela as pega e leva a boca,como tentativa de matar a  sede.Meu coração arde,acho que ele está encolhendo, está sangrando.Penso na maldade do ser humano,penso como quão robóticos nós estamos.Já faz tempo que a maioria de nós deixou de ser um HUMANO com SENTIMENTOS.Tenho raiva de mim mesma,raiva de não ter tido a vontade de ver essa terrível realidade tão de perto,raiva de não ter dado a importância necessária,raiva de já ser tão tarde para salva-lá,raiva desse meu lado robótico.Ela agora olha diretamente nos meus olhos.Não sei o que conseguiu ver através deles,mas sei que eu vi a minha utopia de um mundo feliz  se afastando cada vez mais,vi que a esperança para aquela criança foi embora,vi que a esperança de muitos ficou mais forte com a minha conscientização,vi uma criança que poderia estar em um colégio,estar brincando de boneca,se encantando com a natureza,mas que foi destruída pelo EGOÍSMO HUMANO,por fim,vi a felicidade de me ter ali,como se eu fosse algum ser celestial digna de adoração que veio aliviar a sua dor e ajudar nessa transição de voltar para o lugar de onde veio,o lugar que ela nem se lembrava como era ou aonde era,mas sabia que era o lugar de onde ela desejava não ter saído..Levantei os olhos,imaginei se eu tivesse feito essa viagem antes,talvez tivesse a encontrado e assim ajudado,talvez não,talvez nunca tivesse a conhecido.Então percebi que nada é por acaso.Eu tinha que passar por esse choque para poder levar  a sério,para poder ter forças de por a cara a tapa e poder ajudar a tantos que gritam socorro(e nós simplesmente fingimos não ouvir).Ela sorriu.Um sorriso que me agradecia,um sorriso de alivio.Começou a fazer então o mesmo que eu,enquanto  acariciava seu rosto,ela fazia o mesmo com o meu.As duas tentavam em forma de carinho,diminuir a dor da outra.A dor da morte que está por vim e a dor de ter a máscara tirada,de ter voltado a enxergar,e a culpa de não poder fazer muito.E conseguimos.Não falamos a mesma língua,mas entendíamos o sentimento da outra de uma forma tão mágica,de uma forma que nunca presenciei,nem em filmes.As mãos dela caíram,seus olhos fecharam,e como em filmes,seu pescoço descambou para um lado. Aquela tortura acabou.Ela se foi,virou um ANJO. E eu? Eu abracei aquele corpo,mas não apertei muito para não machucá-la(sei que ela já não estava lá).Minhas lágrimas ardiam e pareciam não ter fim.Não consigo descrever a dor.Nunca senti dor como aquela.Depois de alguns minutos um carro surgiu.Tarde de mais para aquele menininha,mas não tão tarde para os outros que ainda pedem socorro.

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