domingo, 27 de março de 2011

METADE



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
A outra metade é a canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Oswaldo Montenegro)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Minha terapia

Escrevo pela mesma razão de que vivo.Porque se parar,eu morro.Escrevo porque tenho mil coisas a dizer,mas parece não interessar muito aos outros.Escrevo porque tenho coisas a escrever.Escrevo porque me agrada dar vida às palavras e beleza à vida.Escrevo para tirar de mim a sensação de que deveria viver certas coisas e não vivi.Escrevo para fazer real tudo o que não foi.Escrevo para me alimentar,para falar comigo mesma,me interiorizar.Escrevo para ser feliz.Escrevo para sentir a minha alma rir ou chorar.Escrevo pela necessidade de transformar meus sentimentos em palavras .Eu rabisco meus sonhos,minhas dores,minhas reflexões,minhas fantasias.Escrevo como quem dá o primeiro beijo.As vezes não é fácil.Minha alma é tão confusa e complicada.As vezes escrevo,leio,releio,apago e escrevo novamente.Tudo isso para poder organizar tantas palavras soltas e desconexas.Outras vezes as palavras fluem rapidamente,sem trabalho algum,surge de um modo tão natural e lindo que nem sei como explicar.Escrevo porque encontro prazer neste ato.Escrevo porque preciso entender meus sentimentos.Escrevo como quem aceita um desafio,com coragem e animo.Escrevo porque o ato de escrever é o meu refúgio,minha terapia.

domingo, 20 de março de 2011

Noite chuvosa

Um silêncio na rua,os risos se foram. Era uma noite chuvosa,com direito ao espetáculo de trovões e relâmpagos. Fui até a janela e olhei para a noite lá fora. Fui no intuito de apreciar aquele belo momento da natureza,mas algo me chamou atenção. Era ele.Ele estava lá fora, parado há poucos metros de distância,olhando o céu. Eu o observei enquanto ele observava toda aquela maravilha. Aqueles relâmpagos pareciam fotografar aquela minha contemplação.Seus olhos brilhavam ao ver o céu,e eu sentia ciúmes de tudo aquilo porque eles não brilhavam quando estavam voltados para mim,não mais.E não havia mais nada que eu pudesse fazer para mudar os fatos.Estava acabado e eu só podia observá-lo. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe...Meu passado sempre se fazia presente.
O céu parecia estar chorando lá fora. Tudo estava escuro!Eu chorei... Resolvi sair.Encharquei minhas roupas o procurando pelas ruas, mas só encontrei o frio e a solidão.Ele já não estava mais lá.

Fiquei ali em trevas provando a tempestade.Talvez ele viesse após um relâmpago!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Só observo

Fico sentada em um canto e observo as pessoas. Acho que elas não conseguem me enxergar aqui . Estão tão centradas em seus “mundinhos”,que não percebem que eu as observo.E assim,eu continuo prestando atenção em como elas reagem diante da vida. Não julgo ninguém, não dou conselhos, não discordo e nem concordo. Só observo. As vezes eu vejo tantas coisas por trás de algumas palavras e gestos, que até desejo poder fazer ou mudar algo. Não posso mudar o que eu gostaria de mudar. Mas eu queria.
Queria que algumas pessoas pudessem ver o mundo do jeito que eu vejo. Não a parte ruim, porque essa qualquer um pode enxergar. A outra parte. Aquela parte ensolarada, mas não muito quente. Aquela parte chuvosa, mas divertida. Queria que pudessem ver o céu do jeito que eu vejo, com aquela profundidade que dá a sensação de que você poderia se afogar só de olhar para cima.Queria que elas se vissem da mesma forma que as vejo,e que pudessem enxergar as pessoas do jeito que eu enxergo. Porque a maioria só vê a parte ruim,não tenta compreender,só julga.
Queria que elas vissem que ainda existe algo incrível dentro de cada um.Acho que é isso que me faz gostar de observá-las,que me desperta um sentimento grande de afeto por todas elas. Um sentimento tão inexplicável e tão bonito que me faz desejar que todos pudessem sentir a mesma coisa.